Analytics sem Governança de Dados é uma utopia
Muitas empresas ainda ignoraram as condições reais dos seus dados e não investem em ações de Governança. Conheça as dicas que podem reverter este cenário. Artigo original publicado no portal CIO em 15/02/2018.
“O dado é o novo combustível da economia”. Esta foi uma das frases mais ditas em congressos e eventos dos quais participei nos últimos anos.
Movidas por este “clichê”, várias organizações iniciaram projetos voltados à implantação de novas tecnologias, muitas ligadas diretamente ao consumo de dados, tais como os projetos de Big Data e Analytics. De forma geral, se olharmos apenas para o aspecto tecnológico, podemos considerar que quase a totalidade desses projetos foram implementados de forma satisfatória. Contudo, não posso afirmar o mesmo se estendermos a avaliação para o aspecto funcional e o cumprimento do retorno esperado em cada iniciativa.
Muitas empresas ainda não conseguem extrair o real valor dos seus dados. Tudo isto porque insistem em ignorar as condições reais dos mesmos e continuam a alimentar seus repositórios com dados desconhecidos, conflitantes, duplicados, sem propósito, com um grau muito baixo de confiabilidade. Costumo dizer que essas empresas vivem o fenômeno da “data obesidade”. Possuem dados com má qualidade em excesso e, em casos mais extremos, não têm consciência dos prejuízos que tais comportamentos podem causar às organizações.
O resultado é que, após os primeiros meses das implantações dos projetos, as iniciativas passam a ser questionadas. Aquele projeto que todos imaginavam que seria um sucesso, do dia para a noite, tornou-se um tremendo abacaxi na empresa.
Em vez de descobrirem insights relevantes para o negócio, Cientistas de Dados passam boa parte do tempo atuando em atividades operacionais, buscando identificar regras, definições e significados dos conceitos de dados, efetuando cargas e corrigindo dados inconsistentes. Já os Arquitetos de Dados perdem seu tempo apagando incêndios, corrigindo programas de carga, em vez de promover o alinhamento dos dados com novas tecnologias e a estratégia corporativa. Com o passar do tempo, esses profissionais se tornam caros para o trabalho realizado e são substituídos gradativamente por Analistas de Dados, dedicados integralmente às atividades operacionais.
Mas afinal, o que poderia ter evitado este cenário tão assustador? Por que algumas empresas conseguiram ter sucesso em projetos de Big Data e Analytics e outras não?
Como o próprio título do artigo sugere, não há como ter sucesso em projetos de Analytics sem um Programa de Governança de Dados em operação. No entanto, quero deixar claro que a Governança de Dados não é a única “bala de prata” que irá resolver de uma única vez todos os problemas com os dados em uma empresa.
Desta forma, sinto-me mais confortável em afirmar que a Governança de Dados no fundo apoia a transformação dos dados em sabedoria corporativa. Ou seja, ela é fundamental, porém deve caminhar em conjunto com as novas tecnologias, dentro de um ambiente cultural favorável à inovação.
Um programa desta magnitude é responsável pela orquestração das pessoas e ações necessárias para que os dados estejam aptos às necessidades estratégicas de cada organização. Colocado desta forma, a resolução do problema parece bem simples, entretanto, este entendimento ainda não é consensual.
Apesar do discurso, as pessoas possuem conhecimentos, prioridades e expectativas diferentes em relação ao retorno que cada nova tecnologia traz. A ilusão de que uma nova tecnologia, por si só, é capaz de resolver problemas crônicos dos dados das empresas ainda seduz boa parte dos profissionais.
Um ponto interessante a ser considerado nesta análise é que muitos profissionais já vivenciaram a evolução de algumas tecnologias no passado. Ou seja, já sentiram na pele os efeitos da má qualidade em seus projetos, porém alguns ainda colocam em um segundo plano a necessidade de uma governança mais efetiva sobre os dados.
Para muitos o termo “Governança de Dados” remete a conceitos ligados a controles demasiadamente lentos, custosos e desnecessários. Acredito que este preconceito surgiu a partir das atuações burocráticas de algumas áreas de Administração de Dados no passado e mais recentemente, de alguns modelos de Governança de Dados, implementados de forma extremamente engessada, sem levar em conta os recursos disponíveis, a cultura e os objetivos estratégicos de cada organização.
Infelizmente estes pensamentos afetam quaisquer iniciativas que visam melhorar a maturidade das empresas em relação a governança dos seus dados. Contudo, o fato é que se as empresas não mudarem radicalmente a forma como lidam com a governança dos seus dados, irão caminhar a passos largos para sua morte ou, no melhor dos cenários, em uma perda considerável de mercado.
Como reverter este cenário?
Considerando que a maioria das empresas já possui iniciativas para adoção de novas tecnologias em andamento, o Programa de Governança de Dados deve ser baseado em cima dos três princípios a seguir:
Alinhamento estratégico: Engana-se quem acha que a Governança de Dados atua somente no patamar das normas e dos padrões ou ainda através de controles e permissões de acesso. Na verdade, a Governança de Dados deve atuar principalmente com uma visão mais apurada sobre os dados estratégicos da empresa, definindo-os e analisando os processos que produzem e se abastecem desses dados. Um Programa de Governança de Dados deve estar alinhado com o mapa estratégico da organização e a gestão deve priorizar os dados que contribuem diretamente para o cumprimento dos objetivos estabelecidos pela alta direção.
Agilidade: Não há mais espaço para Programas de Governança de Dados com metodologias extremamente extensas, ações de melhoria implementadas através de grandes projetos, vários papéis no ecossistema e evoluções baseadas em “receitas de bolo”. Para poder acompanhar o ritmo acelerado das mudanças, a Governança de Dados deverá ser mais objetiva, implementar melhorias através de quick wins, focar no que é mais importante e viável para cada momento da empresa. Vale destacar que uma Governança de Dados ágil não pula etapas e não compromete a qualidade do trabalho que é esperado.
A utilização de práticas ágeis colabora bastante na transição do tradicional para o ágil. Além disso, o domínio dos frameworks de mercado, é fundamental para que os profissionais possam filtrar e priorizar as práticas recomendadas por essas referências.
Inovação: Sem dúvida é o princípio mais importante, pois comprova de fato a necessidade da Governança de Dados em qualquer organização. Para ser inovadora a Governança de Dados deve ser capaz de cumprir as seguintes etapas:
· Identificar as oportunidades ou problemas com os dados que até então nunca eram discutidos;
· Indicar formas de resolução para as oportunidades e problemas identificados;
· Atuar como estrutura facilitadora, orquestrando todas as partes envolvidas durante a implementação das inovações;
· Medir e monitorar os resultados obtidos com as inovações implementadas.
Quando a Governança de Dados resolve problemas ou implanta oportunidades que até então eram esquecidas ou desconhecidas, ela está contribuindo para sustentar um ambiente de inovação orientado a dados.
Além de estabelecerem uma visão mais agradável sobre a Governança de Dados nas organizações, os três princípios destacados tornam o Programa de Governança de Dados mais simples, flexível e abrangente. Acompanhar o ritmo das novas mudanças a partir de agora, no que tange a Governança de Dados, não será mais uma dificuldade.
Gostou do nosso artigo? Ente em contato conosco, se tiver alguma dúvida ou necessidade para implantar um Programa de Governança de Dados.
Clique aqui e acesse a versão original do artigo na revista eletrônica CIO.
Sobre o autor:
Bergson Lopes Rego é Vice-presidente da DAMA Brasil e fundador da BLR DATA, empresa especializada em consultoria e projetos de Gestão e Governança de Dados
Autor do livro Gestão e Governança de Dados – Promovendo dados como ativo de valor nas empresas publicado pela editora Brasport.
Conduziu diversos projetos ligados a área de Gestão de Dados em empresas de grande porte nos segmentos: Financeiro, Seguros, Óleo e Gás, Governo, Construção Civil e Indústria.
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